Por Onde Começar a Esboçar o Amor?
Imagine começar a ser seguida por uma colegial qué diz estar apaixonada por você, e dizer que você está secretamente apaixonada por ela também! Você vive como se não tivesse passado, exatamente por ter um passado por demais opressivo para que pudesse viver, você é uma pintora e desenhista, você observa e desenha a vida que não chega até você, como uma folha em branco, esperando o traçado acontecer.
O traçado leve do grafite esboçado, assim começam as interações de Nueng e Anueng em Em Branco, a bela webserie do Nine Star Studios, como os primeiros sinais da primavera no vento que toca a sua pele, assim Nueng observa intrigada, na bela atuação de Faye Malisorn, Anueng entrar na sua vida, como se fosse na vida de outrem, em parte porque apesar de todos esforços para se libertar de seu passado, ela ainda vive a vida de outrem, ao tentar só se preservar de maiores feridas, mas não abrir-se para a vida é a possibilidade de sofrer, a possibilidade do amor, que para Nueng vem com a possibilidade de viver sua própria sexualidade.
A série da indícios de que Nueng já se entende como sáfica, embora não esteja aparentemente preparada para se apaixonar, o que talvez venha em parte com o peso de seus 37 anos na sociedade tailandesa em que a idade traz consigo uma série de responsabilidades, entre as quais, casar, ter filhos, e honrar seus antepassados de forma submissa, indícios de maturidade que Nueng rejeita, ao mesmo tempo que por vezes tem dificuldade de encontrar sua própria maturidade, talvez por não poder viver livremente, tanto por pressão externa de sua avó aristocrática por exemplo, quanto internalizando por ela mesma.
A dialética de sua relação com Anueng, uma moça 16 anos mais nova em seus 21 anos, que diferentemente dela carrega todos os indícios externos de fragilidade, mas que dentro de si carrega a força, própria e de geração, para externalizar seus anseios e amadurece-los no mundo por contraposição dialética, tanto com o mundo quanto com o outro, abrindo-se para a rejeição e para o fortalecimento de sua mulheridade e lesbianidade aberta, confronta Nueng com duas possibilidades: a de abrir-se e crescer, confrontando os próprios sentimentos, ou a de fechar-se por uma aparência cis heteronormativa e etarista de "maturidade", possibilidades entre as quais Nueng oscila e da diversas voltas a cada novo obstáculo em sua jornada de autoconhecimento e apaixonar-se por Anueng, jornada na qual sempre conta com a mão compassiva de Anueng estendida para ela, demostrando essa por vezes ser a mais madura das duas, talvez pelo menor peso da pressão externa em sê-lo.
A beleza desta aparente inversão de papéis se dá em parte pela identidade sáfica e feminista, que carrega em si também a consciência da história, e embora sejamos apresentadas a trama pelo olhar de Anueng, Nueng é o espelho de nossa consciência do peso da mulheridade, e ainda mais da lesbianidade em uma sociedade patriarcal, assim como Anueng é o espelho para a juventude e o despertar amoroso, que Nueng, aparentemente, nunca viveu. Quebrados os espelhos e perspassadas as aparências, resta somente a intimidade, o afeto, e o calor.
28 de Junho de 2024.
O traçado leve do grafite esboçado, assim começam as interações de Nueng e Anueng em Em Branco, a bela webserie do Nine Star Studios, como os primeiros sinais da primavera no vento que toca a sua pele, assim Nueng observa intrigada, na bela atuação de Faye Malisorn, Anueng entrar na sua vida, como se fosse na vida de outrem, em parte porque apesar de todos esforços para se libertar de seu passado, ela ainda vive a vida de outrem, ao tentar só se preservar de maiores feridas, mas não abrir-se para a vida é a possibilidade de sofrer, a possibilidade do amor, que para Nueng vem com a possibilidade de viver sua própria sexualidade.
A série da indícios de que Nueng já se entende como sáfica, embora não esteja aparentemente preparada para se apaixonar, o que talvez venha em parte com o peso de seus 37 anos na sociedade tailandesa em que a idade traz consigo uma série de responsabilidades, entre as quais, casar, ter filhos, e honrar seus antepassados de forma submissa, indícios de maturidade que Nueng rejeita, ao mesmo tempo que por vezes tem dificuldade de encontrar sua própria maturidade, talvez por não poder viver livremente, tanto por pressão externa de sua avó aristocrática por exemplo, quanto internalizando por ela mesma.
A dialética de sua relação com Anueng, uma moça 16 anos mais nova em seus 21 anos, que diferentemente dela carrega todos os indícios externos de fragilidade, mas que dentro de si carrega a força, própria e de geração, para externalizar seus anseios e amadurece-los no mundo por contraposição dialética, tanto com o mundo quanto com o outro, abrindo-se para a rejeição e para o fortalecimento de sua mulheridade e lesbianidade aberta, confronta Nueng com duas possibilidades: a de abrir-se e crescer, confrontando os próprios sentimentos, ou a de fechar-se por uma aparência cis heteronormativa e etarista de "maturidade", possibilidades entre as quais Nueng oscila e da diversas voltas a cada novo obstáculo em sua jornada de autoconhecimento e apaixonar-se por Anueng, jornada na qual sempre conta com a mão compassiva de Anueng estendida para ela, demostrando essa por vezes ser a mais madura das duas, talvez pelo menor peso da pressão externa em sê-lo.
A beleza desta aparente inversão de papéis se dá em parte pela identidade sáfica e feminista, que carrega em si também a consciência da história, e embora sejamos apresentadas a trama pelo olhar de Anueng, Nueng é o espelho de nossa consciência do peso da mulheridade, e ainda mais da lesbianidade em uma sociedade patriarcal, assim como Anueng é o espelho para a juventude e o despertar amoroso, que Nueng, aparentemente, nunca viveu. Quebrados os espelhos e perspassadas as aparências, resta somente a intimidade, o afeto, e o calor.
28 de Junho de 2024.
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